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Nadyne Júlia

Nascida em Florianópolis em 1996, Nadyne é formada em Design pela UFSC, teve a oportunidade de fazer intercâmbio na FBAU em 2017, o que redirecionou seu caminho profissional para a pintura e demais possibilidades plásticas. Ao retornar, entrou no Atelier de Pintura do CIC, ministrado pelo Artista e Professor Jayro Schmidt, que desenvolveu um papel de mestre na sua construção artística.

 

G: Quando começou a criar?

N: Desde pequena desenhava, pintava e filmava uns stop-motions com massinha hahah. Mas nunca foi algo constante, também havia momentos em que eu ficava por meses ou até anos sem criar, normalmente eram períodos em que eu não estava tão bem.



G: Houve algum marco que fez você se reconhecer como artista pela primeira vez? Como foi esse processo?

N: Até hoje é difícil me auto-intitular como artista, então acredito que vivo esse processo, e sinceramente, não sei se um dia ele acaba. Gosto de pensar que me dedico à criação, seja em pintura, escultura ou design.



G: Por quais técnicas artísticas você está mais encantada no momento?

N: Meu encantamento hoje não seria tanto sobre uma técnica em si, mas tudo que de alguma maneira sai de um plano, do 2D, de uma superfície e vai de encontro com o tridimensional. Inclusive essa própria relação entre a bi e tridimensionalidade me fascinam bastante. Acredito que a série E(I)mergir fale bastante sobre essa passagem entre as dimensões, muitas das obras estão nesse limiar entre ser uma pintura e uma obra tridimensional. Elas são uma sequência de planos pintados que juntos constroem uma terceira dimensão.



G: De que forma você acredita que ser brasileiro influencia sua arte?

N: A inquietação em relação ao que não se vê, ou ao que não se quer ver. Várias das questões que o Brasil vive e, muitas de sofrimento, vêm de uma negligência externa e de uma invisibilidade criada por aqueles que estão por fora dessas vivências. O olhar de quem negligência é treinado paranão enxergar. Acredito que o artista brasileiro vive esse desafio de intervir nesses olhares, o que é complexo, porque são olhos que vivem num estado de anestesia. Mas quando me refiro aessa posição de não enxergar, não falo de algo que é parcial, mas inerente a todos nós. Ao ponto de às vezes o trabalho do artista ser intervir no próprio olhar. Então acredito que para além da famosa pluralidade de referências que o Brasil possui, ele me influencia a persistir nesse desafio que é atravessar esses olhares.



G: O que está te inspirando nessa fase?

N: Já faz um tempo, é sobre o potencial da introspecção e tudo que pertence ao âmbito interno do ser humano. Aprendemos a ser mais produtivos e práticos na contemporaneidade e a não tornar nosso trabalho dependente de crenças supersticiosas, o que é ótimo porque por uma perspectiva nos dá mais poder em relação ao que queremos fazer. Mas junto a isso perdemos a capacidade de olhar para o mundo de forma subjetiva, de nos compreendermos ao nível íntimo, de viver o ócio. E essas capacidades são fundamentais para conseguirmos viver bem, elas têm ligação direta com a direção daquilo que fazemos no externo. Sinto essa carência no mundo e em mim, faz um tempo que estou em busca desse resgate.




G: Qual a reflexão mais importante que a arte já te trouxe?

N: Acredito que seja sobre o potencial da própria arte, já subestimei e duvidei muito do poder que tem, já achei que ela fosse pouco para mudar certas coisas. Hoje consigo perceber a extensão que ela pode percorrer e gosto muito de acreditar nisso. O que continua sendo uma interrogação, é como atingir todo esse potencial. Mas é uma dúvida boa, é o que nos faz seguir buscando e criando.



G: Se você pudesse enviar uma mensagem pra sua eu de 5 anos atrás, qual seria?

N: Até um pouco vergonhoso hahaha, porque sinto que é um clichê, mas é o mais sincero. Eu diria pra acreditar nas minhas inquietações, nos meus sonhos e trazê-los pro campo prático da vida.




 

Obrigada Nadyne ♥



#arteaqui #arteagora